Entenda as Diferenças entre ACR TI-RADS e o Sistema de Bethesda

Se você acompanha nosso blog, ou realizou algum procedimento relacionado a nódulo de tireoide, certamente já ouviu falar sobre Sistema de Bethesda e ACR TI-RADS. 

 

Mesmo que ambos sejam classificações relacionadas à saúde da tireoide, eles são bem diferentes. Vamos entender a função de cada um, e qual a importância deles. 

 

ACR TI-RADS: 

 

O ACR TI-RADS (American College of Radiology Thyroid Imaging Reporting and Data System) é um sistema de classificação usado para avaliar os achados de exames de imagem, ou seja, a ultrassonografia (US) da tireoide e que é utilizado na prática clínica aqui no Brasil. 

 

Na prática, após um US da tireoide, o médico irá categorizar os achados dentro desse sistema de classificação por pontos, com base nas seguintes características do nódulo:

 

  • composição;
  • ecogenicidade;
  • forma;
  • margens.

 

O sistema ACR TI-RADS atribui uma pontuação ou categoria ao nódulo, variando de TI-RADS 1 (altamente sugestivo de benignidade) a TI-RADS 5 (altamente sugestivo de malignidade). 

 

O ACR TI-RADS é muito útil para guiar decisões clínicas sobre a necessidade de acompanhamento, biópsia ou tratamento adicional. Na prática médica ele é muito utilizado para recomendar a PAAF, por exemplo, a depender da pontuação e classificação do nódulo.

 

Classificação TI-RADSSuspeita de câncerRecomendação de PAAF
TI-RADS 1BenignoSem recomendação
TI-RADS 2 Não suspeitoSem recomendação
TI-RADS 3Média suspeitaSim, se nódulo ≥ 2,5 cm 
TI-RADS 4Suspeita moderadaSim, se nódulo ≥ 1,5 cm 
TI-RADS 5 Alta suspeita de câncerSim, se nódulo ≥ 1,0 cm

 

É importante dizer que o exame de imagem de tireoide (Ultrassom) não diagnostica se o nódulo é câncer ou não.

A classificação TI-RADS ajuda no acompanhamento do nódulo, ou seja, se ele vai precisar realizar uma PAAF do nódulo para continuar a investigação e diagnóstico.

 

No entanto, a classificação TI-RADS é uma orientação geral. Ela serve como um suporte para o médico, mas na prática clínica, o médico também considera outras características do nódulo e do paciente. Isso inclui histórico familiar, exposição à radiação, tamanho e localização do nódulo. 

 

Portanto, em alguns casos, a PAAF pode ser indicada mesmo para nódulos classificados como TI-RADS 1 ou 2.

 

Sistema de Classificação de Bethesda: 

 

O Sistema de Bethesda, por outro lado, é uma classificação citológica usada para avaliar amostras de biópsia aspirativa por agulha fina (PAAF) da tireoide.

 

Quando um nódulo é suspeito de ser câncer no ultrassom (conforme explicado anteriormente), a PAAF é recomendada.

 

Este exame retira (“punciona”) algumas células do nódulo, através de uma agulha fina guiada por ultrassom. Essas células são analisadas por um médico patologista e classificadas no sistema de Bethesda, de acordo com as características encontradas.

 

O sistema de Bethesda classifica as amostras em diferentes categorias, desde “não diagnóstico” (Bethesda 1) até “maligno” (Bethesda 6), com critérios específicos para cada categoria. Isso facilita a comunicação entre patologistas e demais médicos, auxilia nas decisões clínicas relacionadas ao tratamento e acompanhamento dos pacientes.

 

A classificação Bethesda que teve sua última atualização em 2023 segue a seguinte ordem: 

 

Categoria diagnósticaSignificado (características)
Bethesda INão diagnóstico
Bethesda IIBenigno
Bethesda IIIIndeterminado
Bethesda IVIndeterminado
Bethesda VSuspeito de malignidade
Bethesda VIMaligno

 

Caso queira saber mais sobre as mudanças na classificação Bethesda, temos um conteúdo só sobre esse tema aqui no blog, confira.

 

Após a PAAF o médico poderá diagnosticar se aquele nódulo é ou não câncer. Porém, as categorias Bethesda III e IV são classificadas como indeterminadas, ou seja, as características da punção não trazem com clareza se aquele nódulo é maligno ou benigno. 

 

Nessas situações, diretrizes como o ATA (American Thyroid Association), NCCN, ETA (European Thyroid Association) e o consenso brasileiro indicam os testes moleculares.

 

Nódulos Indeterminados Bethesda III ou IV

 

O teste molecular, como por exemplo o mir-THYpe full, analisa as características moleculares do nódulo a partir do conteúdo retirado na PAAF e indicam se aquela amostra é “benigna” ou “maligna” com uma alta precisão, reduzindo as incertezas diagnósticas e proporcionando suporte ao médico quando ele se depara com uma amostra indeterminada. 

 

Nódulos com indicação cirúrgica (Bethesda V ou VI)

 

Além disso, testes moleculares, como o mir-THYpe pre-op, também são indicados para nódulos de tireoide classificados como Bethesda V ou VI . Esses nódulos possuem indicação cirúrgica, pois têm mais chance de serem câncer. 

 

A cirurgia da tireoide é um procedimento complexo que pode seguir vários caminhos: Lobectomia (tireoidectomia parcial), tireoidectomia total e possíveis esvaziamentos cervicais de diferentes áreas do pescoço (remoção de gânglios), entre outros.

 

Existem características moleculares que ajudam a entender se aquele nódulo tem potencial para ser mais ou menos agressivo, o que pode proporcionar ao médico suporte na tomada de decisão sobre a extensão da cirurgia. 

 

O mir-THYpe pre-op investiga marcadores prognósticos, proporcionando informações que podem auxiliar em uma cirurgia personalizada, ao avaliar as características moleculares do nódulo de cada paciente. 

 

Quais dessas classificações devo escolher?

 

A classificação TI-RADS é uma ferramenta valiosa na avaliação dos achados da ultrassonografia da tireoide. Ela fornece orientações cruciais ao médico sobre a necessidade de procedimentos adicionais, como biópsia (PAAF) ou acompanhamento em exames futuros, com base no risco estimado de malignidade do nódulo.

 

Em complemento a isso, o Sistema de Bethesda é aplicado à análise citológica das células coletadas na biópsia aspirativa por agulha fina, classificando os nódulos em categorias diagnósticas com base em uma probabilidade de malignidade.

 

Essas classificações, juntamente com os testes moleculares, fornecem um apoio robusto para a tomada de decisão médica, permitindo um diagnóstico cada vez mais assertivo e personalizado.

 

Quer saber mais sobre o mundo da tireoide? continue lendo nosso blog e acesse nosso site

 

Referências: 

 

The Bethesda System for Reporting Thyroid Cytopathology: Definitions, Criteria, and Explanatory Notes.

https://www.liebertpub.com/doi/epdf/10.1089/thy.2023.0141

 

The 2017 Bethesda System for Reporting Thyroid Cytopathology | Thyroid-

https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/thy.2017.0500

 

HAUGEN, B. R. et al. 2015 American Thyroid Association Management Guidelines for Adult Patients with Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer: The American Thyroid Association Guidelines Task Force on Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer. Thyroid, v. 26, n. 1, p. 1-133, Jan 2016. ISSN 1557-907 (em inglês). doi: 10.1089/thy.2015.0020

 

TESSLER, F. N. et al. ACR Thyroid Imaging, Reporting and Data System (TI-RADS): White Paper of the ACR TI-RADS Committee. J Am Coll Radiol, v. 14, n. 5, p. 587-595, May 2017. ISSN 1558-349X (em inglês). DOI: https://doi.org/10.1016/j.jacr.2017.01.046

Marcos Santos, Ph.D
Biólogo molecular, pesquisador, doutor em genética humana e fundador da Onkos Diagnósticos Moleculares